quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Ter razão ou ser feliz?

Oito da noite numa avenida movimentada. O casal já está atrasado para jantar em casa de uns amigos.
A morada é nova, bem como o caminho que ela consultou no mapa antes de sair.
Ele conduz o carro.
Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda. Ele tem certeza de que é à direita. Discutem.
Percebendo que além de atrasados, poderão ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida.
Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado.
Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno.
Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados. Mas ele ainda quer saber:
- Se tinhas tanta certeza de que eu estava a ir pelo caminho errado, devias ter insistido um pouco mais.... E ela diz:
- Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma discussão, se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite! "

MORAL DA HISTÓRIA
Esta pequena história foi contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho.
_Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente de tê-la ou não. Desde que ouvi essa história, tenho-me perguntado com mais frequência:
"Quero ser feliz ou ter razão?"
_Outro pensamento parecido diz o seguinte:
"Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam."

Israel by Jose Saramago

Não é do melhor augúrio que o futuro presidente dos Estados Unidos venha repetindo uma e outra vez, sem lhe tremer a voz, que manterá com Israel a “relação especial” que liga os dois países, em particular o apoio incondicional que a Casa Branca tem dispensado à política repressiva (repressiva é dizer pouco) com que os governantes (e porque não também os governados?) israelitas não têm feito outra coisa senão martirizar por todos os modos e meios o povo palestino. Se a Barack Obama não lhe repugna tomar o seu chá com verdugos e criminosos de guerra, bom proveito lhe faça, mas não conte com a aprovação da gente honesta. Outros presidentes colegas seus o fizeram antes sem precisarem de outra justificação que a tal “relação especial” com a qual se deu cobertura a quantas ignomínias foram tramadas pelos dois países contra os direitos nacionais dos palestinos.

Ao longo da campanha eleitoral Barack Obama, fosse por vivência pessoal ou por estratégia política, soube dar de si mesmo a imagem de um pai estremoso. Isso me leva a sugerir-lhe que conte esta noite uma história às suas filhas antes de adormecerem, a história de um barco que transportava quatro toneladas de medicamentos para acudir à terrível situação sanitária da população de Gaza e que esse barco, Dignidade era o seu nome, foi destruído por um ataque de forças navais israelitas sob o pretexto de que não tinha autorização para atracar nas suas costas (julgava eu, afinal ignorante, que as costas de Gaza eram palestinas…) E não se surpreenda se uma das suas filhas, ou as duas em coro, lhe disserem: “Não te canses, papá, já sabemos o que é uma relação especial, chama-se cumplicidade no crime”.


Os cadáveres de cinco irmãs palestinas de 4 a 17 anos mortas no bombardeamento nocturno israelita a uma mesquita do campo de refugiados de Yabalia jazem na morgue de um hospital
Agencia France Press - Publicada en El País - 27-12-2008

El Roto
Publicada no El País - 30 - 12- 2008

This entry was posted on Dezembro 31, 2008 at 12:01 am and is filed under O Caderno de Saramago. Pode seguir as respostas a esta entrada através do feed de RSS 2.0. Tanto os comentários como os pings estão actualmente fechados.

Extraído do Caderno de Saramago